Refletir a resistência à escravidão, representada pela morte de Zumbi, é o motivo pelo qual o Dia Nacional da Consciência Negra foi instituído para lembrar a data da morte do líder do Quilombo de Palmares, em 20 de novembro. No acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) há diversos documentos que possibilitam pesquisas sobre a relevância e atuação dos negros na sociedade, política, economia e cultura capixaba, promovendo o diálogo entre o passado de lutas e as conquistas de direitos.
No local, é possível achar, por exemplo, as matrículas de africanos livres, as escrituras de venda de escravos, as correspondências recebidas pelos Presidentes de Província, com dados como os mapas populacionais, informações de fugas, pedidos de reforço na segurança, perseguições, interrogatórios, referências a batizados, casamentos e óbitos, discussões sobre a Insurreição de Queimados – maior revolta negra ocorrida no Espírito Santo – e citações oficiais quanto aos cuidados e vigilâncias às pretensões abolicionistas. Pode-se citar também a lista de passaportes, dos anos de 1843 a 1844, emitidos pela chefia de polícia, que registravam a saída de escravos para outras localidades, principalmente o Rio de Janeiro. Neles são apresentadas as datas da partida e uma descrição detalhada das caraterísticas físicas dos indivíduos.
Negros no ES
Cléber Maciel, no livro “Negros no Espírito Santo”, publicação da coleção Canaã do APEES, ressalta a necessidade das pesquisas e estudos que analisem a trajetória histórica dos negros. Ele destaca a data de 1621 como inicial para a vinda direta de africanos para o Estado, direcionados, principalmente, ao trabalho nos plantios de cana-de-açúcar. “Falar das origens dos negros capixabas é pensar os remanescentes de muitas culturas e etnias africanas; segundo, somar isso as miscigenações ocorridas com os brancos e índios, e terceiro, nessa resultante mestiça, deve-se incluir ainda a participação, mesmo que em menor escala, dos brancos da imigração europeia” afirma.
As ações de resistência são aspectos de interesse do autor, que aborda as fugas, as revoltas e os quilombos. “As revoltas dos escravos contra o sistema vigente devem ser vistas não só como revoltas pela liberdade do corpo, mas também, e principalmente pela liberdade da mente. Pode-se dizer que foi graças ao sacrifício de muitos escravos que foi acelerado e aprofundado o desgaste do escravagismo” argumenta.
Para Maciel, o fim da escravidão não significou o término das humilhações e sofrimentos, mas sim o início de novas lutas pelo reconhecimento da dignidade de ser livre. “Lutas por trabalho, salários justos, lutas contra o preconceito, a discriminação, o racismo, lutas contra a violência, o extermínio das crianças e adolescentes, contra a exploração da mulher negra. Enfim, lutas em defesa dos direitos que a própria Constituição Federal atual estabelece para um cidadão brasileiro”.
FOTO: Divulgação / APEES
(Os textos publicados são produzidos pela Rede de Comunicação do Governo do Espírito Santo)