A primeira emissora a entrar em atividade no Estado, a Rádio Espírito Santo 1.160 AM, completará na próxima terça-feira (14) os 80 anos de sua inauguração, data que marcou o início da radiodifusão capixaba. A Rádio Espírito Santo foi a primeira emissora a unir capital e interior numa mesma sintonia e, hoje, com potência de 50 quilowatts, sua frequência alcança os 78 municípios capixabas e estados vizinhos, como Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo.
Considerando que 2020 marca os 80 anos de existência da Emissora Oficial do Estado, a Rádio Espírito Santo está programando a realização de eventos, a cada mês, até o final do ano.
A criação e a inauguração
O sonho de se constituir uma emissora de rádio local começou a ser alimentado em 1933, quando em 9 de setembro daquele ano, um grupo de jovens visionários e sonhadores da sociedade civil organizada formado pelos amigos Alonso Fernandes Oliveira, Nilton Thevernard, Aphrodísio Ribeiro Coelho, Augusto Figueiroa Costa, Manoel Luiz Mazzi, Balbino Quintaes Júnior, Dagmar Becacici, Flávio Abaurre, Mário Aristides Freire, Jones Santos Neves, Djalma Cabral, Carlos Dumans Filho, Otávio Lengruber, Ernesto da Silva Guimarães e Nicanor Paiva se uniu para formar a Sociedade Civil Recreativa Rádio Club do Espírito Santo, mais conhecida na época como “A Voz de Chanaan”.
Porém, até meados de 1939 a Rádio Club do Espírito Santo ainda não havia iniciado as suas transmissões e o Espírito Santo tinha apenas a opção de sintonizar no rádio as emissoras de outros estados. No período entre o sonho e a concretização do empreendimento, a Sociedade Civil Recreativa Rádio Club do Espírito Santo buscou recursos financeiros e parcerias governamentais.
Finalmente, em 11 de fevereiro de 1939, os 14 sócios fundadores uniram-se à Prefeitura Municipal de Vitória e ao acionista majoritário do empreendimento, o Governo do Estado do Espírito Santo, e criaram a Sociedade Anônima Rádio Club do Espírito Santo, a PRI-9, A Voz de Canaã. Em 12 de outubro daquele mesmo ano, a Rádio Espírito Santo iniciou suas transmissões, em caráter experimental, e nunca mais se calou.
Inaugurada oficialmente pelo Governo do Estado em 14 de janeiro de 1940, a Rádio Espírito Santo, PRI-9, A Voz de Canaã, foi a primeira identidade radiofônica do Estado.
Ciente do poder deste novo veículo de comunicação de massa, o Governo do Estado, em 1949, comprou todas as ações da Sociedade Anônima Rádio Club do Espírito Santo, pertencentes aos 14 pioneiros da radiodifusão e à Prefeitura Municipal de Vitória e integrou, definitivamente, a emissora ao patrimônio do Estado.
Comemorando oito décadas, o fato é que a Rádio Espírito Santo veio para fazer história nas terras capixabas. O seu pioneirismo abriu as portas para a propagação da cultura capixaba e revelou diversos profissionais que até hoje são reconhecidos pela sociedade local. Além disso, a sua importância também está no fato de, por integrar o Governo do Estado, carregar em sua trajetória uma parte importante da história do Espírito Santo.
Sendo assim, desde sua criação até os dias de hoje, a Rádio Espírito Santo se revelou fonte de memória para o Estado e catalisador de talentos.
Astros e estrelas
Por ela passaram os grandes nomes do rádio capixaba, entre eles Licério Duarte Júnior, Darly Santos, Therezinha Gobbi, Creuza Gramacho, Hermínio Blackman, Luiz Bastos de Noronha, César Rizzo, Hélcio Leão, Bertino Borges, Cody Santanna Có, Paulo Bonino, Arlete Cypreste de Cypreste, Boris Castro, Djalma Juarez Magalhães, Jairo Maia, o professor Renato Pacheco, o folclorista Guilherme Santos Neves, José Costa e Marien Calixte que apresentou, dentre outros, o programa ‘O Som do Jazz’, apontado pelo Guiness Book de Records como o mais antigo do gênero no rádio brasileiro.
Além deles, nomes da vida política estadual, como Gerson Camata e Élcio Álvares, ambos ex-governadores do Estado; o ex-prefeito de Vitória, Solon Borges, e deputados estaduais, como Hugo Borges, Darcy Castello Mendonça e Nilton Gomes.
Na cena musical, destacaram-se artistas como Bento Machado Guimarães, o primeiro cantor da Rádio Club do Espírito Santo, o mestre do violão, Maurício de Oliveira, Antonio João, Rose Valentim, Dorkas Nunes, Hilma Alves, Maria Cibeli, Valquíria Brasil, Neli Rodrigues, Didi Chagas, Hélio Mendes, o maestro Mundico, Sebastião da Silva Rabello, o “Caboclo Bastião” e o flautista Carlos Poyares. Eram estrelas, com fã-clubes e tudo. Também havia os grupos musicais, como Bando Tropical, Cancioneiros da Lua e Conjunto Hélio Mendes.
Além destes também podemos citar a dupla Bico e Biquinho, Altemar Dutra, Armando Mauro, Gibson Calmon, Jair Amorim, Orquestra de Clóvis Cruz, os Trios Capixaba e Caiçaras, Harley Quintaes, Waldecir Lima e o primeiro Grupo Regional da emissora formado pelos irmãos Maurício e José de Oliveira, Luiz Noronha, Cícero Dantas dos Santos, Nelson do Pandeiro, Claudionor, Jefa e Odil do Clarinete.
Entre os artistas nacionais que estiveram no palco da Rádio Espírito Santo figuram Cauby Peixoto, Silvio Caldas, Ângela Maria, as irmãs Linda e Dircinha Batista, Zé Trindade, Roberto Carlos, Vicente Celestino, Altemar Dutra, Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves, Jararaca e Ratinho, Murilo Caldas e Lolita França, a Trupe do PRK-30, Rodolfo Mayer, Emilinha Borba, Marlene, Francisco Alves, Elizeth Cardoso e Elza Soares, entre outros.
Astros internacionais também participavam da programação, como Lucho Gattica, José Mojica, Gregório Barrios e o cantor argentino Edgar Lafoucarde.
Além da música e dos shows, o palco também era dividido com as radionovelas e os rádios teatros. Sobre esse estilo destaca-se a contribuição de dona Arlete Cypreste de Cypreste, importante escritora capixaba, autora de programas e diversas radionovelas, como “A Vida de Santa Rita de Cássia”, “O Último Beijo” e a primeira radionovela transmitida pela Rádio Espírito Santo, “A Vida de Anita Garibaldi”, sucesso absoluto no ano de 1952.
Jornalismo
O jornalismo foi um marco para a emissora. Na década de 1950, com uma equipe formada por mais de vinte repórteres e editores, a Rádio Espírito Santo era referência. A modernização dos equipamentos patrocinada pelo Governo do Estado, com carro de reportagem e transmissor portátil – uma grande mochila com peso de cerca de vinte quilos carregada pelo repórter e a proximidade com os órgãos oficiais – permitiam a transmissão, em primeira mão, de fatos importantes para os cidadãos capixabas. Dessa equipe surgiram nomes, como Gérson Camata, do jornalismo policial, e Élcio Álvares.
Entre os programas jornalísticos mais lembrados estão os jornais Radiorepórter Capixaba, no estilo do Repórter Esso, e o Na Polícia e Nas Ruas, que mais tarde veio a ser substituído pelo Ronda Policial, programa de maior audiência por vários anos no rádio capixaba, levado ao ar a partir de 1984, sob o comando de Jorge Groppo, Hilmar de Jesus, Ênio Follador (Kramenha), Violene de Carvalho, Aylor Barbosa e Guido Gonzaga. Havia ainda os noticiários institucionais que foram implantados pelo governo, dando informações oficiais e transmitindo solenidades sob o pretexto de serem programas de cunho puramente jornalístico. Nomes marcantes do rádio jornalismo de então: Marien Calixte, José Luiz Holzmeister, Eleisson de Almeida, Djalma Juarez Magalhães, Osdiva Bruzzi e Adam Emil Czartoryski.
Esses foram também os anos de ouro da cobertura esportiva, notadamente do futebol, com transmissões ao vivo de jogos do campeonato local e do brasileiro de seleções e Copas do Mundo. Os times do Estado passavam por momentos muito melhores e jogos contra o Santos de Pelé, ou o Cruzeiro de Clodoaldo eram garantia de audiência. Os informativos Binóculos – homônimo de uma coluna do jornal A Gazeta, escrita por Darly Santos – e Focalizando os Desportos, com Darly Santos e Duarte Júnior, elevaram os níveis de interesse pelo desporto capixaba. Darly Santos ficou conhecido pelo apelido de Mickey, pseudônimo usado inicialmente para burlar a proibição de sair do quartel em tempos de serviço militar para jogar futebol.
Os anos 1980-1990 foram de absoluto sucesso para a Rádio Espírito Santo, quando a emissora permaneceu na liderança do Ibope por 17 anos. Em sua grade de programação figuravam nomes de peso da radiofonia capixaba, como Jairo Maia, Luiz Carlos Peixoto, Nilton Gomes, Francisco Gonçalves, Ana Paula, “A Voz da Noite” e o comentarista dos corredores do Showbiz, Valberto Nobre.
Revitalização e perspectivas: a Rádio Espírito Santo hoje
Desde o início do Governo Renato Casagrande, a emissora oficial do Estado tem recebido investimentos expressivos. O mais importante, entretanto, não é garantir a abrangência nacional e internacional da emissora, e sim a captação do sinal 1.160 AM dentro do próprio Estado do Espírito Santo. A emissora oficial precisa falar com quem está nas mais distantes localidades de nosso Estado, oferecendo informação e entretenimento, com o objetivo de atender aos interesses de nossa população.
A Rádio Espírito Santo desde 2015 vem fazendo suas transmissões também pela Internet, em seu próprio site www.rtv.es.gov.br e em seu aplicativo para android, podendo ser captada também nos sites especializados como o radiosnet.
Além disso, apostando na segmentação do rádio na rede, a emissora também entrou na era do rádio virtual, por meio de programação via podcasts. Inicialmente, a Rádio Espírito Santo transmite via podcast, às terças-feiras, na faixa das 19 horas, o programa “RádioAtivas”, direcionado para assuntos específicos, de acordo com as características da audiência cativa da emissora e com a facilidade de serem ouvidos a qualquer hora.
Além disso, a Rádio Espírito Santo intensificou de forma significativa a publicação de posts de sua programação na rede mundial, numa forma de inserir a jovem senhora de 80 anos de idade no admirável mundo novo da tecnologia cibernética.
Na atualidade, a busca pela excelência e o alto padrão da equipe de Jornalismo da 1.160 AM renderam inúmeros prêmios aos profissionais da emissora de 2004 a 2019, nos principais prêmios de Jornalismo, tanto em nível estadual quanto nacional. Os profissionais da Rádio Espírito Santo, ao longo dos últimos 16 anos, alcançaram as principais premiações no Prêmio Capixaba de Jornalismo, no Prêmio de Jornalismo Cooperativista, Prêmio MPT de Jornalismo, Prêmio Findes de Jornalismo, Prêmio Café Brasil de Jornalismo, Prêmio INEP de Jornalismo e o Prêmio Categoria Estudante, do Prêmio de Jornalismo Cooperativista, conquistado por um de nossos estagiários.
Nessa nova fase de desenvolvimento da emissora, o Departamento de Rádio Jornalismo cresceu e se reinventou junto com a Rádio Espírito Santo e ampliou sua missão de divulgar notícias, cultura, esporte e mantendo sempre o foco na prestação de serviços à população capixaba.
Em tempos de alegria ou de tristeza, nos momentos de desafio e de superação, a Rádio Espírito Santo, que também já foi conhecida pelo prefixo PRI-9, A Voz de Canaã, sempre esteve ao lado do povo capixaba, fazendo jus ao seu atual slogan “A Sua Companheira de Todas as Horas”.
As vozes de seus locutores, as notícias de seus jornalistas e radialistas, as emoções difundidas em suas ondas ajudaram a compor o cotidiano de gerações inteiras de nosso Estado ao longo do século XX, mantendo-se firme em pleno 2020, início de uma nova década.
Por ter atravessado um período tão vasto de nossa história, há que se registrar um destaque desse tempo de oito décadas: a paixão e a garra de seus funcionários, locutores, jornalistas e radialistas, que mantiveram a Rádio Espírito Santo no ar em fidelidade aos seus ouvintes, cultivando o seu legado sociocultural, mantendo viva uma tradição!
Portanto, partindo-se do princípio da relevância do veículo, a Rádio Espírito Santo é referência para todos os capixabas: Um veículo importante, principalmente, num país como o nosso onde as distâncias são grandes e os vazios maiores ainda. É no presente que o passado se faz primordial para que no futuro a emissora continue viva mandando seu recado aos ouvintes.
A comemoração dos 80 anos tem como objetivo principal reavivar a memória da emissora pioneira do Estado. Porém, não basta que a ação seja pontual. É preciso que a história esteja sendo permanentemente contada.
A trajetória da Rádio Espírito Santo, nesses 80 anos, fala muito do que já fomos, mas também indica muito do que somos. A memória, mais que jogar luz no passado, ilumina o presente, com boas pistas do que virá. Mergulhar na memória é saber de si, ontem, hoje, amanhã. Viva a Rádio Espírito Santo!
FOTO: Divulgação
(Os textos publicados são produzidos pela Rede de Comunicação do Governo do Espírito Santo)