Uma pesquisa, com início neste mês de março, vai levantar os aspectos ecológicos do surto de febre amarela silvestre no Espírito Santo. O trabalho terá duração de um ano e vai ser realizado por meio de uma parceria entre a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação no Espírito Santo (Fapes) e a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Há, ainda, a participação da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). O investimento na pesquisa, que será repassado pela Seama/Iema, é de R$ 182.270,00.
O evento para assinatura do convênio foi realizado na manhã da última sexta-feira (03), na reitoria da Ufes, e contou com a presença do secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), Aladim Cerqueira, do secretário de Estado da Saúde (Sesa), Ricardo de Oliveira, do diretor-presidente da Fapes, José Antônio Bof Buffon, do reitor da Ufes, Reinaldo Centoducatte, e do professor de Ciências Biológicas da Ufes, Sérgio Lucena.
De acordo com o secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado, Aladim Cerqueira, este projeto pretende reunir um conjunto de informações que possa ser tratado e analisado de forma adequada, visando contribuir para o conhecimento dos processos biológicos e ambientais que favorecem ou até mesmo condicionam o surgimento do surto de febre amarela.
“Considerando que o evento está em curso na região de Mata Atlântica do Espírito Santo, a intenção é aproveitar a oportunidade para coletar o máximo de informações possíveis enquanto o surto não declina, já que esses eventos tendem a ser rápidos, durando semanas ou poucos meses. A pesquisa, portanto, envolve a coleta de informações sobre os primatas e mosquitos durante o período do surto, o processamento genético das amostras e a modelagem e análises dos resultados”, salientou o secretário.
O secretário de Saúde, Ricardo de Oliveira, ressaltou a importância da pesquisa. “Esta parceria é muito importante para toda a população do Estado. Este estudo vai ajudar, pois vamos poder acompanhar a epizootia com muito mais eficiência do que fazemos hoje. Nós vamos participar fornecendo todas as informações que a Secretaria coletou e está coletando, não só de mortes de macacos. Também vamos disponibilizar a infraestrutura do Laboratório Central, que vai fazer a articulação com os laboratórios nacionais do Ministério da Saúde, porque alguns exames laboratoriais não são feitos aqui. A nossa participação será bem ativa, porque nos interessa muito em relação à proteção da saúde da população do Estado. Na segunda parte do projeto, vamos organizar o acompanhamento do monitoramento e também o estudo efetivo da contaminação do mosquito, visto que precisamos saber se este surto vai embora ou vai permanecer aqui no Estado”, disse Oliveira.
Para o diretor-presidente da Fapes, José Antonio Bof Buffon, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) tem capacidade de atender uma demanda de pesquisa com esta. “O principal papel da Fapes é de facilitador, de fazer o encontro e mobilizar o conhecimento onde ele está disponível”.
A coordenação da pesquisa está a cargo do professor titular do Departamento de Ciências Biológicas da Ufes, Sérgio Lucena. Ele tem graduação em Ciências Biológicas pela Ufes, mestrado em Ecologia pela Universidade de Brasília e doutorado também em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas.
Sérgio Lucena explica que no passado ocorreram surtos de febre amarela urbana no país, transmitidos pelo Aedes aegypti, mas essa forma foi erradicada, na década de 1940, por meio de vacinação, de obras de saneamento urbano e do controle do vetor. “Todos os casos humanos registrados no Brasil têm a sua origem no ciclo silvestre, ou seja, na área de mata. O mosquito infectado pica o ser humano, desenvolvendo a virose. A morte de macacos em reservas naturais e fragmentos florestais, tanto em Minas Gerais quanto no Espírito Santo, vem ocorrendo em grande escala. Apesar das mortes atingirem principalmente os barbados, temos confirmação de morte de outras espécies, como os suas (Callicebus), saguis (Callithix), macacos-pregos (Sapajus) e evidências de que o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), espécie criticamente em perigo de extinção, também pode estar sendo afetada”.
O pesquisador deixa claro que o objetivo principal é investigar aspectos biológicos e ambientais relacionados à febre amarela silvestre, que está atingindo a Mata Atlântica de diversos municípios do Espírito Santo, com especial atenção à dispersão da doença na paisagem e sua relação com a morte de primatas e infecção de mosquitos.
>> Os objetivos específicos da pesquisa são:
:: Identificar localidades em que primatas estão morrendo, supostamente, pelo vírus da febre amarela;
:: Coletar amostras de vísceras e carcaças de animais mortos com vistas à obtenção de material biológico para teste de febre amarela, estudo de DNA, estudo taxonômico e biogeográfico;
:: Monitorar as mortes de primatas nas unidades de conservação e nos seus entornos;
:: Coletar mosquitos transmissores do vírus e enviar ao Instituto Evandro Chagas para identificação e testes virais;
:: Implementar um sistema de informações geográficas e uma base de dados sobre o avanço da morte de primatas;
:: Testar, por modelagem, as hipóteses sobre o surgimento e dispersão da virose no território capixaba;
:: Investigar a presença do vírus e outros patógenos de interesse em sangue de primatas capturados vivos;
:: Propor medidas preventivas e ações de conservação visando à recuperação das populações de primatas afetadas pelo surto;
:: Contribuir para a difusão de informações que esclareçam a população sobre a natureza desses eventos e a importância da preservação dos primatas.
FOTO: Fred Loureiro / Secom-ES
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