A imprensa capixaba amanheceu de luto ontem com a descoberta da morte do jornalista Sérgio Ricardo de Oliveira Egito. Aos 68 anos, Sérgio Egito, ou Serginho, como era conhecido pelos mais próximos, era responsável pelo cargo de Diretor de Produção da Imprensa Oficial do Espírito Santo (DIO/ES) desde 16 de março de 2015. Ele foi encontrado morto em sua casa, no bairro Jardim da Penha, ontem pela manhã.
Com uma carreira consagrada na área do jornalismo, Sérgio Egito começou como repórter de A Tribuna e redator da Rádio Espírito Santo, em 1970. Também trabalhou no extinto O Diário e em A Gazeta. Foi editor chefe desses três jornais.
A nomeação dele no DIO/ES significou um recomeço, pois ele já havia ocupado o mesmo posto na autarquia no período entre abril de 2008 e junho de 2010. De 2010 até março de 2015, Sérgio Egito estava na presidência do Sistema RTV, que engloba a TV Educativa e a Rádio Espírito Santo. Na Rede, foi o responsável pela implantação do sistema de transmissão em sinal digital e da construção do novo Parque Irradiante da TV Educativa, localizado em Queimados, na Serra.
Em homenagem a ele, o governador Paulo Hartung iniciou a reunião de secretariado pedindo um minuto de silêncio. “Sérgio Egito foi fonte de inspiração para a atual geração, especialmente os mais jovens”, destacou.
Sérgio Egito morava sozinho e não tinha filhos. Ele foi sepultado no cemitério Jardim da Paz, na Serra.
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Entre 1982 e 1985, foi Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo. Além disso, estagiou em diversos jornais e revistas como a Block, em Belo Horizonte, Jornal Brasil e no O Globo, no Rio de Janeiro. Em busca de conhecimentos, ele trocava as férias pela oportunidade de aprender inovações em outras empresas.
Em 2014, foi homenageado pela Findes por conta dos 45 anos de dedicação ao jornalismo. Este ano participou da premiação da Federação como jurado.
Recentemente, Ygor Cássio Amorim, estudante de jornalismo e estagiário de Comunicação do DIO/ES, fez uma entrevista de perfil com Sérgio Egito para uma disciplina na faculdade. Confira a íntegra da entrevista.
Ao longo dos quase 50 anos de jornalismo e 68 de vida, Sérgio Ricardo de Oliveira Egito pôde ver de perto várias mudanças na profissão de que tanto se orgulha.
Nascido em Vitória, Sérgio é um dos quatros filhos de um inspetor de alunos do Instituto Federal e uma costureira. A família sempre priorizou a educação e a instrução. O pai assinava diversos jornais e revistas, como Cruzeiro e Manchete, o que aguçou a paixão pela leitura e pelo ofício jornalístico.
O jornalismo entrou muito cedo na vida dele, já que na infância morava na Rua Duque de Caxias, no Centro de Vitória, próximo aos maiores meios de comunicação do Espírito Santo na época, como A Gazeta, A Tribuna e o extinto O Diário.
Egito começou a trabalhar com jornalismo a convite de Rubinho Gomes. Como sabia que Sérgio tinha certa familiaridade com a rotina jornalística, Rubinho fez a pergunta fatal, "Você quer trabalhar?". Aos 19 anos Egito aceitou o convite do amigo e após escrever o primeiro texto iniciou os trabalhos no jornal. Na mesma época começou a trabalhar como redator da Rádio Espírito Santo.
No princípio ele se disponibilizava a fazer todo o tipo de matéria, desde cidades a política. Quando começou a trabalhar no ano de 1979, o jornalismo no Estado ainda era rústico, porém a estrutura nunca mudou. Para ele os avanços tecnológicos e editoriais auxiliaram o profissional.
- Como foi sua infância e juventude?
Sou um de quatro irmãos, um irmão e duas irmãs, e todo mundo tinha que estudar e ajudar em casa. Meu pai era inspetor de alunos na Escola Técnica e minha mãe era costureira e escritora, irmã de Carlinhos Oliveira, escritor capixaba. Passei em Ciências Econômicas na UFES aos 19 anos. Lá em casa priorizávamos os estudos.
- Como o jornalismo entrou na sua vida?
Sempre gostei de ler livros e jornais desde a infância. Meu pai assinava a Cruzeiro, Manchete e outras revistas da época. Eu morava em cima do Jornal Folha Capixaba. A gráfica da Folha era embaixo da minha casa. Então eu acabei convivendo com muitos jornalistas. Na Duque de Caxias, que era onde eu morava, tinha também O Diário, A Tribuna e A Gazeta também era próxima. Eu frequentava mais o Diário e a Tribuna, pois tinha amigos lá. Sempre ia lá bater papo com eles. Sempre gostei do mistério, mas nunca tinha trabalhado com jornalismo.
- Qual foi seu primeiro contato com a profissão?
Estava indo para casa depois de tocar num bar e Rubinho Gomes, que já trabalhava no Jornal A Tribuna, me chamou e fez a pergunta fatal “você quer trabalhar?”. Ele estava atolado com trabalhos num fechamento e não tinha gente o suficiente para trabalhar. Então eu fiz uma matéria, fui aprovado e comecei a trabalhar lá naquele mesmo dia, em 1979.
- Em quais lugares você já trabalhou?
Trabalhei na Tribuna, Gazeta, Diário Oficial, TVE como diretor, quando eu implementei o sinal digital, na Rádio Espírito Santo. Comecei nas bases e cheguei a diretor e implementei um novo parque industrial para transmitir em 50 kW. Fiz estágio na Block em Belo Horizonte, Jornal Brasil, no O Globo. Eu trocava minhas férias por conhecimento. Com isso eu aprendi muita inovação.
- Começou a trabalhar em que função?
Eu era repórter geral, cobria tudo, crime, cidade, política, onde precisasse eu fazia matéria. Depois trabalhei como ajudante de máquina na gráfica.
- Como começou a trabalhar na gráfica?
Eu peguei um carro emprestado com um amigo e bati, precisava consertar, mas não tinha dinheiro o suficiente. Foi aí que me ofereceram a oportunidade de trabalhar como ajudante de máquina na oficina. De dia eu era repórter e de noite eu trabalhava na oficina. Então comecei a trabalhar na gráfica para pagar o prejuízo. Aprendi todo o serviço da gráfica, o que me levou a abrir um horizonte maior. E fui assim até ter a chance de ser editor, e na época o editor também diagramava.
- Ao longo dos quase 50 anos de profissão quais foram as mudanças que você acompanhou?
Eu comecei a trabalhar com chumbo, porque o jornal era feito em linotipo, igual essas tecladoras. As matérias eram compostas em parques, botavam o chumbo na rama, hoje não tem mais. As medidas eram em paicas. Aí passou para a composição a frio, concomitantemente tinham composição a quente ou chumbo e impressão a frio e até chegar nos dias de hoje, o modo de fazer jornal mudou completamente. O que nós vemos hoje é que acontece alguma coisa do outro lado do mundo e nós já recebemos um e-mail ou uma mensagem.Antigamente recebíamos uma rádio escuta e datilografávamos nas redações. Isso tudo aprimorou fundamentalmente o jornalismo, mas o modo de se fazer jornalismo não morreu. A reportagem não morreu. Até hoje a formatação de uma matéria, seja em qualquer nível, é a mesma de sempre: o que, onde, quando e por quê.
- O que você aprendeu como editor?
Quando eu comecei a trabalhar tinha que fazer a revisão em dupla, um colega ficava com a original e eu com a cópia e ia assinalando os erros. Na oficina era diferente, você pegava a rama de cabeça para baixo e lia o texto de trás para frente, isso exigia muita perfeição. Então quando pego um texto hoje já encontro um erro de cara por causa do costume.
FOTO: Assesoria de Comunicação / DIO-ES